
Quer ler um livro que examina a depressão a fundo do ponto de vista neurológico? Este é o livro. Peter Kramer é um eminente psiquiatra americano; e este trabalho é fruto de anos de pesquisa. Entretanto, o livro também traz pequenos relatos clínicos, sendo inclusive recomendado por grandes escritores como Daniel Goleman (autor de Inteligência emocional) e ao lê-lo você perceberá que Kramer não é um psiquiatra biologicista, ou seja, daqueles que pensam que o comportamento do ser humano é determinado biologicamente. Ao contrário, o autor valoriza o processo terapêutico como um ponto extremamente importante para o tratamento da síndrome depressiva, e se você tiver discernimento, perceberá que ele, sutilmente se curva diante da complexidade de alguns casos. Assim, ele não bate o martelo em nenhuma causa radical da depressão, nem tão pouco nos apresenta uma linha de tratamento que possa funcionar como fórmula mágica para todos os casos que vemos por aí.
Sobre a medicação enquanto artifício possível de eliminar o sujeito por traz da depressão, Peter Kramer escreveu o livro Ouvindo o Prozac que durante algum tempo foi considerado a “bola da vez” na luta contra a depressão. Para quem não conhece o Prozac, certamente conhece a fluoxetina, hoje tão banalizada, quanto quase ineficaz, embora seja comumente a alternativa inicial que todo psiquiatra lança mão. Por que por si mesma, é quase ineficaz? Escute o sujeito por trás do seu enredo. O paciente quer muito mais do que medicação, não é mesmo?
Mas, o grande diferencial do livro está no apanhado histórico que o autor faz da depressão enquanto charme. “O quê?” Sim, isso mesmo. Durante anos, e hoje não é tão diferente, a depressão tem sido associada à criatividade artística, à produção filosófica, literária, etc. Com isso, ela ganhou o poder de imprimir status de charme e glamour em muitos artistas. Penso que exemplos nessa área sejam dispensáveis, mas o autor traz casos e mais casos.
O autor também questiona os verdadeiros valores associados à depressão, e sugere um STOP a essa sutil “loucura charmosa”. A proposta é não brincar com a depressão, e para tanto o primeiro passo é a admissão honesta do sujeito em depressão. O próprio autor (pasmem!) dá o exemplo falando de si mesmo:
“A maioria da teoria psicológica é autobiografia encoberta; não nego que minhas atitudes em relação ao transtorno de humor tenham raízes profundas. Tenho potencial para a depressão, o qual provavelmente foi maior em meus anos de graduação e logo depois. Permaneço agradecido ao meu analista por me direcionar para longe desse abismo, para solo mais alto e seguro.” (pg´s 354;355).
A você que se interessou, boa leitura!
Celso Melo
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