
Uma das características marcantes de pessoas saudáveis é a sensibilidade que possuem de encontrar alegria nas pequenas coisas da vida. Quando somos capazes e sensíveis para sentir alegria nas coisas pequenas, estamos no caminho da felicidade. Ao contrário disso, a grande maioria vive sempre na expectativa de grandes momentos que nem sempre chegam. Falam da grande alegria que sentirão quando o emprego “aguardado” se concretizar; do namoro por vir; da iminência do casamento; da separação; do outro casamento; da promoção no trabalho; do filho que planejam ter etc. Assim, a vida é sempre um vir a ser, um lance pro futuro, um jogo cujo resultado final sempre demanda prorrogação. Mas, o que conta na vida são as produções do coração*:
1. A dor da saudade, às vezes culposa, às vezes reconfortante…
2. As surpresas alegres e positivas, como uma boa notícia inesperada…
3. A paixão correspondida ou não, importando apenas o prazer de senti-la como fato, como presença em nós – atesto de nossa sensibilidade quanto a deixarmo-nos impressionar e cativar por alguém.
4. A doce presença do sentimento de gratidão que manifesta do profundo do ser o contentamento pelo bem recebido de alguém.
5. A genuína alegria de ser alvo da gratidão de alguém, quando se fez um bem não visando retorno algum…
6. A produção que se manifesta no prazer de corpos ávidos pelo desejo que se instaurou na alma dos amantes, e que enfim, se transformou em química e em “uma só carne”.
As produções do coração são muitas, mas pouco delas entendemos. Todavia sabemos falar com vivacidade de outras produções – as grandes realizações de sucesso. Sabemos enumerar nossos bens, e quanto a isto estamos livres de qualquer amnésia. Sabemos também do que fizemos, dos aplausos que ganhamos, de nossas casas construídas, das roupas que compramos e que com elas, ninguém agasalhamos, mas também nenhuma produção do coração com elas alcançamos.
Gosto da história sobre um grupo de alunos que estavam estudando as sete maravilhas do mundo. No final da aula, aos estudantes foi pedido que fizessem uma lista do que eles pensavam que fossem consideradas as sete maravilhas atuais do mundo. Embora houvesse algum desacordo, começaram os votos:
1. Pirâmides Do Egito.
2. Taj Mahal.
3. Grand Canyon.
4. Canal de Panamá.
5. Empyre State building.
6. Basílica do St. Peter.
7. A Grande Muralha da China.
Ao recolher os votos, o professor notou uma estudante muito quieta. A menina não tinha virado sua folha. O professor então lhe perguntou se tinha problemas com sua lista. A menina quieta respondeu:
— Sim, um pouco: eu não consigo fazer minha lista, porque são muitas.
O professor disse:
— Bem, diga-nos o que você tem, e talvez nós possamos ajudá-la. A menina hesitou, mas então leu:
— Eu penso que as sete maravilhas do mundo sejam: tocar, sentir sabor, ver, ouvir, sentir, sorrir e amar. Assim, a sala então ficou completamente em silêncio…
É fácil olharmos as façanhas dos homens, e negligenciarmos o que realmente é capaz de tocar o coração, habitá-lo e impactar a consciência. A lista dessa garota está recheada daquilo que realmente interessa quando o assunto é vida saudável. Somente do coração é que procedem percepções e valores para uma vida que deixa marcas nas pessoas.
Ora, não advogamos contra a necessidade da materialidade de grandes construções e realizações, mas a grande verdade é que no fim da vida, quando as lembranças se tornarem fortes, e nossa mente se esforçar para resgatar ao menos um pouquinho de alegria de nossa memória, o que contará como valor e importância serão as produções do coração. Portanto fazer dele uma fábrica de esperança, perdão, sonhos, alegria, gratidão, prazer verdadeiro e amor deveria ser a missão de todos.
Pessoas felizes são felizes porque aprenderam que a felicidade está na constituição do ser, não vindo de coisas exteriores que se agregam ao longe do caminho. Pessoas assim não dizem que se tornarão ou conquistarão a felicidade e alegria de viver somente depois de terem seus grandes sonhos realizados. Descobriram que a felicidade acontece na caminhada, não mormente na linha de chegada. A felicidade deve ser o assunto do dia; não um meticuloso planejamento que se faz pro futuro, quando a combinação de várias coisas que esperamos, vier a ser realidade – o que nem sempre acontece. É interessante observar como a escala das necessidades de Abraham Maslow (Psicólogo norte-americano – 1908-1970) parte de objetivos materiais, viscerais e tangíveis (fome, segurança, sexo, poder ect) para a intangibilidade do ser, a saber a autorrealização. Se você quiser percorrer essa estrada naturalmente se deparará com a importância do que chamei nesse texto de “produções do coração”. Vamos nessa?
* Se você é daqueles que nunca ouviu falar na linguagem do coração e seus códigos de “memória”, recomendo leituras de pesquisas atuais na área das neurociências. As pesquisas, descobertas e os trabalhos do dr. Paul Pearsall podem ajudar.
Celso Melo
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